CNH mais barata pode comprometer segurança e qualidade na formação de motoristas.
O projeto do Ministério dos Transportes que propõe mudanças na formação de condutores promete reduzir em até 80% o custo para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A ideia é permitir estudo teórico online gratuito, aulas práticas com instrutores autônomos e eliminar a obrigatoriedade de carga horária em autoescolas. No entanto, especialistas alertam que o modelo pode fragilizar a fiscalização, concentrar lucros e comprometer a qualidade da formação.
Atualmente, tirar a CNH custa, em média, entre R$ 2.500 e R$ 3.000, valor que varia conforme o estado. Desse total, cerca de 45% (R$ 1.200 a R$ 1.400) é destinado a autoescolas e instrutores, cobrindo aulas teóricas e práticas, uso de veículos e monitoramento. Já 55% (R$ 1.300 a R$ 1.600) correspondem a taxas e serviços obrigatórios pagos ao governo e parceiros, incluindo exames médicos (R$ 175), psicotestes (R$ 201,99), laudos (R$ 275,93), taxas de emissão, provas do Detran, além de plataformas digitais e sistemas de monitoramento (R$ 230,80 por aluno).
Com a reforma, o governo afirma que o custo total poderia cair para cerca de R$ 600, mas analistas apontam que essa economia pode ser ilusória. Mesmo com a redução de aulas presenciais, os serviços obrigatórios e taxas públicas continuam sendo cobrados. Além disso, novas despesas podem surgir com o credenciamento de instrutores autônomos e o uso de plataformas privadas, algumas operando em regime de monopólio em determinados estados.
As autoescolas alertam ainda para o impacto social: o setor emprega mais de 300 mil profissionais no país e pode sofrer uma forte redução de postos de trabalho. Outro risco é a formação desigual, caso candidatos optem por treinos mínimos ou instrutores pouco qualificados, elevando o risco de acidentes e prejudicando a segurança viária.
O Ministério dos Transportes defende que a proposta amplia o acesso e moderniza o sistema, garantindo provas obrigatórias e curso teórico online gratuito. Já representantes de autoescolas e especialistas pedem garantias de fiscalização, transparência nos preços e regras nacionais claras para evitar fraudes e concentração de lucros em plataformas privadas.
A consulta pública sobre o projeto segue aberta, e o debate gira em torno de uma questão central: a prometida economia para o cidadão poderá vir acompanhada de perda de qualidade e maior risco nas estradas.
Redação: Vale FM



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