Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), é uma condição que afeta entre 1% e 11% das crianças.
O ronco alto em crianças, frequentemente subestimado, pode sinalizar distúrbios respiratórios como Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), uma condição que afeta entre 1% e 11% das crianças (veja aqui), acarretando consequências cognitivas, comportamentais, metabólicas e de crescimento ao longo do tempo.
Epidemiologia e fatores de risco
Um estudo longitudinal em pré‑escolares britânicos (1–5 anos) indicou que 7,9% relataram ronco frequente, com 0,9% apresentando sono significativamente perturbado.
Em crianças entre 6–13 anos, 37% com ronco primário evoluíram para Apneia Obstrutiva do Sono em 4 anos, sendo obesidade um dos principais fatores preditivos.
Em um estudo com crianças de dois anos, o tempo de ronco foi associado a redução de HDL, ApoA1 e elevação de hs‑CRP, sugerindo riscos metabólicos precoces.
Fatores ambientais (fumo passivo, poluentes) e socioeconômicos também elevam o risco de ronco habitual em crianças pequenas.
Mecanismos fisiopatológicos
O aumento de amígdalas e adenoides é a causa mais prevalente de ronco e AOS pediátrica. Estudos em crianças de 2 a 3 anos demonstraram que maior tempo de ronco, respiração bucal e hipertrofia adenoidal elevam substancialmente as chances de AOS.
Consequências clínicas
Neurocognitivas e comportamentais: ronco e Apneia Obstrutiva do Sono fragmentam o sono e reduzem a oxigenação cerebral, resultando em déficit de atenção, hiperatividade e baixo rendimento escolar. Um estudo no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine correlacionou o grau de snoring com mau desempenho acadêmico.
Somáticos e metabólicos: pode haver impacto adverso em lipídios (redução de HDL), distúrbios de pressão arterial e risco cardiovascular . AOS também prejudica a produção do hormônio do crescimento, levando ao atraso do crescimento.
Diagnóstico
A identificação clínica envolve histórico com ronco persistente, apneias notadas pelos pais e recursos como polissonografia. Estudos confirmam que apenas os relatos parentais de apneia são preditores significativos de AOS (RR 3,6), enquanto ronco constante e sono agitado têm risco mais moderado .
Tratamento e abordagens
Intervenções clínicas:
- Adenotonsilectomia é a primeira linha para casos moderados a graves, demonstrando resolução de sintomas em 60–75% dos casos e melhorias em enurese noturna.
- Terapias com corticosteroides tópicos intranasais (ex.: fluticasona) são eficazes na redução da hipertrofia.
Abordagens complementares:
Modificação do estilo de vida (controle de peso, redução de alérgenos, ergonomia do sono) e, emergencialmente, o uso de CPAP em casos refratários.
Projetos futuros:
Em adultos, sulthiame mostrou redução de pausas respiratórias em 50%. Embora promissor, ainda não há evidência pediátrica equivalente.
Menino com equipamento contra a apneia do sono. Imagem: Cpaps.com.br
Recomendações técnicas
Para ambientes clínicos e escolares:
a. Triagem ativa: incluir perguntas sobre ronco, apneia, respiração bucal e úmido em avaliações pediátricas de rotina.
b. Encaminhamento especializado: casos com suspeita elevada (ronco persistente, papéis respiratórios, insônia), encaminhar a otorrinolaringologista para exames e polissonografia.
c. Intervenção precoce e multidisciplinar: combinar cirurgia (quando indicada), terapia odontológica, controle de peso e alergias.
d. Monitoramento longitudinal: observar evolução de crianças com ronco primário, já que 37% evoluem para AOS em 4 anos.
Uma Observação constante
O ronco infantil é um sintoma clínico importante, com implicações diretas no desenvolvimento neurocognitivo, no crescimento e nas condições metabólicas da criança, e deve ser observado atentamente pela família e encaminhado para um consultório médico quando os sinais acima forem identificados.
Da Redação CSFM